quarta-feira, 1 de julho de 2009

Memórias de uma ex-toxicodependente #4

Cada dia que passava o organismo exigia mais, mais droga para saciar aquele desejo de aleniação da realidade. O dinheiro começava a escassear, pois não era suficiente para as doses que compravamos. Depois da experiência com o M., eis que antigo traficante de droga sai da prisão e leva-nos para esquemas dos quais eu jamais pensei fazer parte. A início não ia no meu carro mas com o tempo e depois de tanto insistirem eu era a condutora. Geralmente era um puto de 19 anos que já injectava mas tinha o pé um pouco pesado e mais o problema de quando se injectava desmaiar, tanto que da primeira vez que isso aconteceu eles pensaram que ele tinha morrido, resolveram que eu era o melhor. Mulher, naquela altura sem aspecto de ser agarrada e se fossemos mandados parar sempre podia pôr os pacotes no soutien pois geralmente quem faz a revista ao carro no caso de parar eram homens e esses não me podiam revistar. Naquela altura já estava por tudo, alinhei...
Nessa altura ainda não estava dependente, consumia durante a semana e ao fim de semana e férias da universidade conseguia controlar, muitos achavam estranho. Eu não sabia o que pensar. Todos os dias fazia viagens de 30 km mais ou menos para comprar droga, primeiro para o tal traficante que tinha saído da cadeia e voltado ao activo e depois para nós. No início custou um pouco, andava perto de casa, sempre com medo de ser descoberta por alguém, depois com o hábito fui-me habituando.
Costumavamos comprar para consumo e para desenrascar alguns. Cada vez mais dinheiro, mais droga e o dinheiro da renda da casa, da comida e até das aulas ia para o nosso vicío. Tivemos que sair da casa em que estavamos, deixamos muitos meses de renda por pagar. O nosso amigo D. deixou-nos ficar em casa dele. uma casa sem água, que tinhamos de ir buscar garrafões de água para termos a nossa higiene e para as poucas refeições que faziamos. A outra casa onde estavamos era um luxo comparada para a que tinhamos ido... mas era apenas um desenrasque. Foi nessa casa que eu me comecei a agarrar, que passei a consumir mais e mais.... e a não querer saber de mais nada! Foi aí que deixei de viver.

3 comentários:

Conversa Inútil de Roderick disse...

A tua vida dava um filme ou um livro, moça!
Sabes, tenho amigos e um familiar directo que passou o que passaste. E no caso do meu familiar, não se recorda de quase nada do que fazia ou do que aconteceu!
Ou então não quer recordar. És uma pessoa rara e especial! Conseguiste livrar-te disso, tal como ele e uma boa amiga minha!
Vocês tem muito valor, garanto-te!
Beijocas

Isabel de Miranda disse...

continua:)tu és linda...beijinhos com muito carinho

Anónimo disse...

Quando sentires necessidade escreve ou diz o que te vai na alma, se isso te faz bem, então continua e nunca te esqueças do passado. Como é bom nos sentir "livres". Fica bem