quarta-feira, 20 de maio de 2009

Memórias de uma ex-toxicodependente #3

Entretanto eu e o meu ex-namorado começamos a comprar heroína esporadicamente, e por vezes o pessoal alinhava também, mas geralmente fumavámos no nosso quarto sozinhos. Isto durou algum tempo, até que a minha companheira de casa, avisa-me em cima da hora que vai mudar de casa e deixa-me sem saber o que fazer e nem para onde ir pois não dava para pagar só os dois aquele apartamento. Nessa altura, tinha havido uma pausa nas aulas para as férias de verão, parei de fumar nesse espaço de tempo, para recomeçar na casa nova e no novo ano lectivo.
Casa nova, vida nova. Assim se pensa e assim foi. Mudamos para uma casa maior e mais para o centro da cidade. O nosso amigo D. continuava a frequentar a nossa casa, assim como tantos outros e a droga, começou a entrar novamente aos poucos em minha casa e principalmente na minha vida. Conhecemos novas pessoas, que consumiam drogas duras e que a vendiam, e passamos de consumo esporádico a consumo quase diário, pois eu quando vinha ao fim de semana a casa não trazia nada comigo e nem consumia. Começamos a levar o N. e a L. ao "Homem", aquele que lhes vendia, e em troca davam-nos uns "canecos" de coca, uns riscos na prata de "heroa" e também uns pacotezitos, para além de meterem gasolina também. Com estes "esquemas" o consumo começou a aumentar e consequentemente começou a aumentar a dose também.
No início ainda deu para aguentar, a renda da casa, a comida e o novo vício que tinhamos, mas depois começou tudo a correr mal, quando começamos a levar toxicodependentes para nossa casa. Em minha casa entrou de tudo, os que fumavam apenas charros até àqueles que picavam, que injectavam heroína. Certo dia através do casal que nos vendia conhecemos o M., um filhinho de famílias ricas que levou juntamente com os outros dois irmãos a família à falência. Mas o que se seguiu foi que ele discutiu com a mãe e pediu a ver se o deiavamos morar lá, eu coração mole que sou e com pena dele aceitei mas com uma condição, não queria tráfico em minha casa, na realidade não havia pois ele apenas fazia os pacotes lá, mas passado um certo tempo sem ele pagar renda nem contas de espécie alguma, com a ameaça de a mãe descobrir e chamar a polícia a nossa casa, já estava farta de o ter lá em casa mas o que me levou a pô-lo fora de minha casa foram as seringas usadas que ele tinha nas gavetas da mesa de cabeceira cheias de sangue, aí já não era só a falta de paciência para com o feitio dele mas também o facto de a minha saúde estar em risco. Arranjei uma desculpa para ele sair de casa e foi um dos maiores alívios que tive, mas a minha vida nessa altura já há muito que estava a cair a ritmo vertiginoso e eu sem nada perceber. Enquanto o M. esteve lá fiz várias viagens com ele, mas desta vez para mais longe. Um dia , ou melhor uma noite, ele chegou a nossa casa a perguntar se em troca de material não o levavámos ao Porto, perguntei-lhe se era seguro e calmo, ele afirmou que sim. Algo em mim me dizia para não ir, mas o meu ex. disse que sim, não haveria problema e então lá fomos nós em direcção ao Porto, mais ou menos 100km da cidade de onde eu estava. Quando chegamos, ele mandou-me encostar, trancar as portas, deixar o carro em posição de arranque e passou-me uma navalha para as mãos, eu fiquei completamente em pânico. Entretanto ele e o meu ex saíram e eu fiquei ali sozinha, no bairro do Cerco, rodeada de traficantes, delinquentes e toxicodepentes, enquanto eles foram ao apartamento de uma cigana comprar o material. A partir desse dia não voltei a mais lado nenhum com ele. Não aconteceu nada mas poderia acabar de outra maneira.


  • continu@

3 comentários:

Isabel de Miranda disse...

Um beijinho com muito carinho:)continua assim forte e linda...

Unknown disse...

ola, encontramos o teu blog numa pesquisa em Area de Projecto, o nosso grupo está a trabalhar o tema das toxicodependencias e gostavamos de contactar contigo. deixamos aqui o mail para poderes dizer alguma coisa soraia.silva7@hotmail.com
obrigada e agradeciamos uma resposta.

Anónimo disse...

olá, partilhado um pouco a minha dor, o meu marido é ex-toxicodependente, amo muito e não tenho nada que lhe apontar, sou do bairro do cerco sempre me afastei das drogas e de todas essas coisas, e mais tarde lá soube que a pessoa que eu amava tinha tido um passado que eu sempre fugia.
acho que devemos, sempre dar uma oportunidade a nós e aos outros.
bjs